hora de celebrar… os louros

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mais da critica do The Hollywood Reporter em português

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Poderoso drama criminal com centelhas de humor ácido da diretora-roteirista estreante Juliana Reis.

Um assalto a veículo e seu sangrento resultado são o pontapé inicial desse vigoroso drama brasileiro, que acaba de ter sua estréia mundial em competição no Festival do Rio. O longa de estréia de mão firme da diretora-roteirista Juliana Reis, ex diretora de casting de Luc Besson em Paris, Disparos é hábil e polido em todos os aspectos, apesar de seu título em inglês estranhamente desajeitado. A tradução direta mais elegante do original seria “Shots”.

Graças em grande parte a Cidade de Deus, o cinema brasileiro recente goza de uma reputação por seus dramas criminais com brutalidade gráfica que expõem o abismo entre ricos e pobres nessa imensa nação Latino Americana. O gênero agora beira o clichê, mas Disparos atinge um tom mais lúdico e absurdo do que a maioria. Ele começa como um thriller urbano, então se desdobra em fragmentos não lineares para uma comédia negra de costumes sociais, jogos de palavras e química sexual inesperada. Estreando no Brasil em 9 de Novembro, tem ambição estilística e brilho técnico de sobra para atrair espectadores perspicazes para além das fronteiras do Brasil.

Gustavo Machado encarna Henrique, um arrogante fotógrafo carioca. Em uma noite cheia de eventos, depois de uma sessão de fotos numa boate gay nos arredores da cidade, sua câmera é roubada, mas o episódio se intensifica virando um chocante atropelamento, deixando um dos supostos ladrões gravemente ferido. A turba se reúne e um Henrique traumatizado acelera em fuga, mas retorna logo em seguida para recuperar o cartão de memória de sua máquina, apenas para ser preso por deixar a cena do crime omitindo socorro a vitima de lesão corporal.

Na Delegacia de Polícia, o temperamento impetuoso de Henrique lhe vale uma batalha estendida de perspicácia com o cínico Inspetor Freire (Caco Ciocler), centrada sobre ele ser vítima ou vilão. Enquanto isso, um dos criminosos está à beira da morte no hospital, e o motorista responsável está em casa, agonizado por culpa. O thriller vira farsa quando Freire interroga o paciente errado como suspeito em potencial. Mas a conseqüência mais improvável do roubo do carro está no embaralho de vários casais estranhos cujos encontros levam, todos, em uma peça descaradamente calculada de simetria dramática, para uma sinfonia de encontros sexuais simultâneos.

Baseado em fatos reais, Disparos parece feito para propositalmente retratar o Rio contemporâneo com uma certa dose de distância autoconsciente de sua mais recente reputação na tela. As locações anônimas são, em sua maioria, ruas noturnas e interiores pastéis, com o Diretor de Fotografia Gustavo Hadba permanecendo nos marrons suavizados e sombras temperamentais. Há muito estilo visual aqui, mas não muita cor tropical ou espetáculo que explora pobreza e favela. Reis até desliza deliberadamente uma piada para iniciados sobre a franquia de thriller policial filmada na região, Tropa de Elite, em seu roteiro pra lá  de espirituoso.

Seus policiais não são vigilantes fascistas carregando armas, apenas cínicos cansados da vida cuja arma de escolha é o sarcasmo desdenhoso. E os criminosos que eles perseguem não são gângsters ferozes adolescentes das favelas despedaçadas pela guerra, mas delinqüentes juvenis triviais que ainda recebem ordens das mães. Alguns desses plots laterais e personagens menores são muito pouco desenvolvidos, como se Reis estivesse apontando para um drama de conjunto de pontos de vista sem se sentir inteiramente devotada a esse dispositivo.

Mas são pequenos defeitos num filme que de outra maneira é uma excelente estréia que equilibra emoções intensas com diálogo perspicaz. O mais impressionante, Disparos está muito mais interessado em explorar as conseqüências humanas inesperadas do crime violento do que em descrever a violência em si.

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