Considerações acerca das ofertas de trabalho para roteiristas no site TELA BRASILEIRA

em forma de carta aberta, por Juliana Reis

para VIDA DE ROTEIRISTA (site da ABRA, em janeiro 2017)

Aos responsáveis pelo conteúdo publicado no site TELA BRASILEIRA;

Prezados,

Venho me manifestar por meio da presente carta em nome de todos os roteiristas que atuam no mercado audiovisual brasileiro.

A razão deste contato é, em primeiro lugar, parabenizar a iniciativa do site TELA BRASILEIRA de propor oportunidades de trabalho para nós, profissionais do audiovisual.

No entanto, não posso me omitir diante de sofismas em forma de ofertas mirabolantes, feitas por empregadores “confidenciais”, às quais alguns de nossos colegas – sobretudo os mais jovens e inexperientes – sucumbem por inadvertência.

Essa prática perniciosa é recorrente no mercado e, por alguns aceitarem, acabou gerando uma relação viciosa de trabalho, contra a qual hoje venho protestar.

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“Vamos no risco? Se rolar, tamo juntos”.

Todo projeto audiovisual parte de um texto, seja argumento, sinopse ou roteiro. Sem ele não há projeto, não há orçamento, não há equipe a ser contratada e não existe produto final. O fato é que sempre o roteiro, por sua natureza de pilar fundador, é colocado como o investimento de risco.

E é nesse intuito que repudio anúncios, como os  divulgados neste link , postados por produtores que se escondem atrás do anonimato, que não trata de uma proposta de trabalho e sim de um desrespeito com toda uma categoria profissional. Primeiro porque o “risco” proposto não é de ninguém, além do roteirista. Segundo porque, em 99% dos casos, a própria precariedade nas condições de trabalho o impede de rolar; e, nos raríssimos casos em que o trabalho rola, é o tamo juntos que já não rola tanto assim….

Cabe ainda notar que praticamente todos os jobs propostos sem remuneração no site (e com exceção de posições de vendedor, de tradição comissionadas) tratam de ofertas para ROTEIRISTAS… Fica então a pergunta: por que não passa na cabeça de um produtor propor a um montador ou um cinegrafista de trabalhar no risco?

Se adiciono o fato de que o trabalho do roteirista, quando bem-sucedido, é muitas vezes eclipsado quando de sua divulgação que apenas valoriza a figura do diretor, fica fácil perceber o longo caminho que ainda temos que trilhar na valorização e reconhecimento do nosso ofício.

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 Como diria o economista, “aquilo que tem não valor, não tem valor”.

É, portanto, de suma importância que comecemos a atribuir um valor real ao que fazemos. O autor roteirista precisa urgentemente ser mais valorizado no Brasil.

Projetos feitos nestes termos raramente chegam a ser produzidos e, quando chegam, geram produtos de péssima qualidade, que depois irão depor contra os próprios roteiristas e gerar a falácia corrente no mercado de que não existem bons roteiristas no Brasil; não existem bons roteiristas no Brasil que topem trabalhar de graça, essa deveria ser a frase correta.

Deveria ser do interesse comum, inclusive o de um site como o TB, cuidar para que as propostas nele veiculadas não atentem à dignidade dos profissionais que chegam em busca de uma chance de desenvolvimento, seduzindo os mais ingênuos e pouco experientes com iscas hollywoodianas. Nesse sentido, me permito sugerir que o TB estabeleça diretrizes de controle, dentro de padrões de deontologia, não compactuando – ao contrário, se posicionando contra – a postura predatória de algumas empresas de produção.

Isso ajudaria a combater tal prática e contribuiria para estimular uma nova cultura de colaboração criativa, baseada no respeito e no reconhecimento do valor do aporte do autor-roteirista dentro da cadeia de produção audiovisual brasileira, cuja missão de seu repertório é de fundamental importância para o desenvolvimento de nossa sociedade.

Agradeço a atenção e lhes desejo um ótimo 2017.

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