ARGUMENTO DE ROTEIRO E PROJETO DE SÉRIE TV
Antônio Silvestre, um dos homens mais importantes do século XX, é dado por morto, mas sobrevive clandestino no estrangeiro onde, rodeado de obras de arte e tubos de hemodiálise, destila remorsos e conspira por redenção.
Em sua megalomania senil, ele se crê responsável pelo que o Brasil se tornou, nas décadas em que floresceu seu império. E quer obrigar ambas, história e natureza, a perdoarem-no.
Enquanto isso, em Brasília, o presidente do senado recebe, de um doador anônimo, um quadro. A princípio, ninguém o relaciona com a série de assassinatos grotescos de senadores e notórios corruptos. Mas a investigação altamente midiatizada vai mudar o curso do ano eleitoral.
Livremente inspirado no díptico Le Jugement de Cambyse (1498), de Gerard David
Justificativa e Intenção do Autor
Pensar no projeto de sociedade formulado pela classe dominante que impôs ao Brasil a história das suas últimas décadas, me leva a suspeitar de um enorme potencial de remorso pela situação brasileira atual, resultado, se não deste projeto, ao menos do engendramento de uma certa mentalidade que, por aqui, floresceu, e que continua a dar, hoje, seus amargos frutos. Não pretendo fazer deste sentimento uma tese que explique o país. Ele é sim, o germe desta dramaturgia, em torno do tema universal da busca da redenção.
E é no encontro com o díptico Le Jugement de Cambyse, que se deu o ponto de partida para esta intriga de gênero e correspondências, onde a impunidade encontra a culpa, a megalomania encontra a senilidade e o gótico, o filme noir.
A busca da redenção como miragem, a perpetração do estado de coisas como fatalidade.
Um verdadeiro filme noir, não fosse o espaço que ele abre para a catarse. Não precisando ir longe para encontrar equivalências da ficção no real (e isso apesar do toda semelhança apenas ser mera coincidência), o espectador que presencia de fora, se vê também no interior do espaço narrativo, sabendo, conscientemente ou não, mais do que sabem os próprios agentes da trama. Possibilitar a jubilação sem o logro do politicamente correto.
Esteticamente, o gótico internacional do rico fim do século XV vai vestir nossa imagem e compor nosso enquadramento, com seus vermelhos aveludados, e mais textura que profundidade de campo. Além disso: propor uma placidez no jogo de ator e na direção, permanentemente em contraste com o conteúdo da ação, tão dramática, e com o sentimento que ele desencadeia no espectador, de júbilo. Em contraste também, devo dizer, com a tradição barroca do nosso cinema.
Paralelamente, e como um contraponto, uma segunda camada narrativa, construída a partir de depoimentos quentes e instantâneos, sem o tempo da reflexão pausada ou do discurso coerente e sem o capricho da ficção elaborada, como se ele quisesse acompanhar, ao vivo e a cores, o processo emocional do espectador, e se fazer eco desta interação.
Juliana Reis